Artista Poeta Escritor
"estamos aqui
para curar a realidade
do excesso de si mesma"
Infiltrações
LIVROS
Infiltrações (165 páginas)
Acupuntura Literária
novos fluxos nos meridianos psíquicos
estilhaçar a crosta estagnada do senso comum
com os punhos nus da estranheza
* * * * * * *
Aqui, na escrita do Pedro ( nesse momento da sua escrita ) está / esteve em jogo sua vida. Está em jogo a trajetória do Planeta, os passos de tartaruga da Humanidade. Como em todo grande poeta.
Como em toda grande poesia.
E como em todo poema que carrega um potencial de poesia.
E esses poemas carregam. Como Rilke. Como Blake. Como Garcia Lorca.
Um conglomerado de forças. Feitiço contra a fragilidade do Mundo: o Ego. Cada poema aqui é como um composto de energia, um quantum, um pacote de energia direcionado à consciência do Ser, à consciência do Planeta, ao caroço das coisas:
você, leitor, você...
sempre você.
Ou seja: na medida em que esses poemas do Pedro têm extensão em sua vida; na medida em que o Pedro é alguém que é verdadeiramente um poeta, alguém que tá interessado em FAZER ( poiésis ) POESIA e não só escrever poemas, vocês podem ter certeza que esses poemas hoje concretos e condensados à sua frente já foram uma experiência primeira de grandiosidade abstrata ( outra dimensão ) e hoje não são quase nada do que foram, quase nada.
O que eu digo é: elas não começaram no papel, na escrita, numa viagem via linguagem, como no poeta tradicional, que só conhece esse dimensão da poesia ( ou ainda a dimensão do intoxicar-se até morrer com drogas, bebida, sexo, rock´n´roll na velhíssima e conhecida Trindade, Santíssima Trindade dessa Sociedade ).
Começaram numa viagem de percepção, sensorial.
Como na meditação, na oração, no transe, na Alegria. Esses poemas são a sobra duma anterior orgia sensorial
( poesia ) à qual o Pedro se submeteu naquele dado momento, naquela dada noite, naquele dado dia. E se submeteu não necessariamente pra escrever poemas, mas pra melhorar como ser humano; é um projeto de vida; & se ele foi generoso em nos revelar esses poemas, devemos é ser gratos à ele, como à todo grande poeta, nós devemos ser gratos.
Então, ele é poeta...ele faz poesia muito antes de escrever poemas. Mas como grande poeta que é ( é sempre bom lembrar ), não é negligente no trato com as palavras;
ele sabe ser um intelectual quando é preciso ser, tem consciência de Linguagem pra poder significar bem sua poesia, a poesia da sua Consciência.
- trecho do posfácio escrito pelo poeta-escritor Paulo Rafael de Aguiar Godói
REVERSÃO DA PERVERSÃO
da uniformidade adversificada em confusão
para a diversidade versonificada em união
Este livro está em formato de anotações, reflexões e aforismos.
Servem para estímulo, inspiração, lampejos. Algumas passagens serão parecidas entre si, mas neste caso, a repetição tem efeito musical – é a mesma batida numa nova ressonância contextual, podendo acender novas nuances semânticas para a audição sinestésica atenta e receptiva. Há uma certa organização temática, estando interligados, um tema aparecerá no outro e o que foi dito em um será dito em outro, como raios informativos desdobrando-se num leque prismático temático.
São as mesmas informações básicas em outros matizes, em outras oitavas.
Nestes escritos, o propósito é a livre exploração de idéias. Não estou congelando respostas, nem encarcerando conceitos. Estou essencialmente questionando, investigando e sugerindo possibilidades.
“estamos severamente danificados por crenças estagnadas, não percebidas e não questionadas. estamos grandemente apartados de nossas capacidades e impulsos reais. eu acredito na reversão de tudo isso. na reversão da perversão. acredito na purificação e expansão da consciência.”
“Reversão cognitiva - de uma vida estagnada numa fração paralisada paralítica paralisante; para uma totalidade vibrante fluida interconectada.”
* * *
O questionamento é uma das mais importantes vias para se chegar em qualquer coisa verdadeira – dentro e fora de nós. Mas esse questionamento não é uma simples desconfiança adestrada que se confina em áreas relativamente seguras como ocorre em muitas mentes céticas que alcançam aparentes certezas políticas e ideológicas, nem o ceticismo que se auto proclama “científico”, e no fundo é fictício; também não é o da rebeldia arrogante e imatura. Esse questionamento é muito mais profundo. Total honestidade nua, sem qualquer outra preocupação ou objetivo do que a investigação em si, e as possíveis verdades. Em muitos momentos significa apenas um não-saber, uma abertura ampla à muitas possibilidades. Esta investigação, de fato alcança muito pouco de certezas e verdades; mas indubitavelmente desfaz enganos e mentiras, esclarece erros de pensamento, abre espaço para novos fluxos de descoberta e esses fluxos me parecem sempre apontar mistérios e mistérios, intermináveis, quiçá insondáveis, incognoscíveis.
* * *
a linguagem “objetiva”, “imparcial” esfria os elos, até congelá-los; a linguagem analítica os quebra. A linguagem, que em sua essência é fluxo relacional, torna-se compartimentalizada e absoluta – impositiva; ficando assim descaracterizada, desvitalizada, desnaturada. E a mente que a abriga e a utiliza alheia-se da alma.
* * *
O prazer é indissociável da liberdade, sendo livre, o estado natural é prazer. Em cativeiro, em grilhões, para ativar o prazer são precisos estímulos estranhos, grosseiros, estímulos que contém em si elementos de escravidão e violência. O verdadeiro prazer sempre nos leva em direção à liberdade e vice-versa.
*
Em essência, apenas nós que podemos nos permitir aprender e/ou des aprender. Quem realmente ensina, de fato não quer ensinar. Apenas transborda.
*
Em vez de leves, levianos
Em vez de profundos, pesados
Esc Ritos (97 páginas)
exercícios de exílio
a realidade oficial
se oferta a nós
mas nós,
estamos fartos,
de fato,
somos fartos
e nossos atos
são Arte
Sou poeta e esta estranheza é apenas minha.
e só o que é meu, posso doar, e dou, de todo coração à Criação.
esta é minha devoção. decocção da vocação.
elixir exaltado da altura entranhada
no altar ofereço; sem cerimônia, o chá fervido e servido
no silêncio de mim mesmo.
* * *
que coisa é essa, que parece
não existir de forma alguma
mas que a simples presença arremessa
tudo o mais à inexistência ?
* * *
É nítido que há Algo aqui.
Algo mais presente do que tudo que já foi presenciado,
Algo estranhamente explícito e camuflado
Algo que não precisa ser confirmado
e que não pode ser negado.
um som inaudível
um vento impalpável
talvez seja a única coisa
que possamos dizer que está aqui.
nossa própria existência é incerta,
e o que chamamos de real, duvidoso.
tudo o que foi nomeado pode ser contestado,
mas esse Algo, não.
não pode ser contestado, não pode ser nomeado
é até mesmo redundante mencioná-lo.
* * *
já reparou ?
no arrepio subjacente
a qualquer brisa, a qualquer vento
a qualquer bicho, coisa ou gente?
já parou
para perceber sentindo
o absurdo infinito produtor de cada ente?
você sente?
e já reparou que algo em ti
fica intolerante, impaciente
com o mistério insistentemente rente?
* * *
nossos olhos físicos tem o fulcro escuro
para sorver luz e enxergar claro, no claro.
os olhos da alma tem o fulcro claro
para projetar luz e ver o escuro, no escuro.
Haicais Xamânicos & Afins (75 páginas)
poemas curtos, imagéticos e saturados de assombro, estranheza
e beleza fresca.
"
o sol agora encerra
sua trajetória em arco
dedos dourados despendem-se
do verde aveludado
dos morros ondulados
fulgurante pupila ígnea
engolida
pela pálpebra ascendente
do horizonte
* * *
vegetais ladeando a vereda.
céu de porcelana. nuvens impensáveis.
pássaros
em súbitas avenidas
de vento
* * *
hortênsias acesas acenam da borda da vereda.
sob meus passos crepita
um trançado de folhas frescas e secas.
uma brisa vibratória das entranhas da mata
me abraça, e do cerne extravasa
minha deliciosa estranheza inata