Pedro Ivo

5 de fev de 20201 min

Ceticismo impecável

Existem aqueles que se dizem céticos, mas que são céticos muito imperfeitos, raramente desconfiam deste “eu” que se diz cético e com o qual se identificam e acreditam piamente.

Questionam tudo o que não se encaixa no repertório de possibilidades pré-concebidas por uma “ciência” ou racionalidade caricaturizada, como se estas fossem entidades uniformes e objetivas que, se não negam o que está além do seu âmbito, relegam para o campo vago e pantanoso do que não se pode averiguar e provar.

Comportam-se como se o mundo fosse composto de objetos sólidos e fenômenos cognoscíveis, e a realidade, externa, independente e imutável.

Um cético genuíno começaria por questionar estas proposições – a existência de um “eu” consistente que serve como ponto de referência para categorizar e julgar o que quer que seja e a existência de uma realidade externa, objetiva, que existe por si e nos determina.

Esse tipo raro de cético poderia, através do questionamento profundo, suspender verdadeiramente os julgamentos e através disso abrir uma brecha, que por mínima que seja, deixaria entrar uma espécie de vacuidade imensurável, permitindo a percepção do que subjaz e sustenta qualquer fato ou evento questionável, o Mistério verdadeiramente Insondável e Inquestionável.

O cético então atravessaria o abismo da ilusão e não desembocaria num cínico apático, arrogante e entediado, mas se transmutaria num místico vibrante, genuinamente curioso e extasiado.

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